terça-feira, 23 de outubro de 2007

Vem aí o ‘bolsa-professor’

MEC pagará R$ 350 para incentivar estudantes de licenciatura a não abandonar a carreira

Rio - Depois do bolsa-escola, o ‘bolsa-professor’. Para manter mestres na sala de aula — como universitários de licenciatura e também como instrutores da Educação Básica na rede pública —, o Ministério da Educação (MEC) dará 20 mil bolsas de incentivo à docência a partir de março: 10 mil para projetos desenvolvidos de fevereiro a dezembro e 10 mil para agosto a dezembro. O benefício será de R$ 350 mensais para cada universitário que tiver projeto selecionado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

O Programa de Bolsa Institucional de Iniciação à Docência (Pibid), antecipado por O DIA em agosto, terá R$ 75 milhões em 2008 para combater a evasão de profissionais do magistério. Pesquisa do MEC divulgada há uma semana mostrou que 71,2% dos professores formados não atuam na Educação Básica da rede pública.

RIO ESTÁ NO PÁREO

Os universitários do Rio estão no páreo das seleções anuais para as bolsas. Isso porque as redes estadual e municipal do Rio têm índices de desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) abaixo da média nacional (3,8) e esse é o primeiro critério para a escolha. O Ensino Médio nas escolas estaduais do Rio tem nota média de 2,8; o Fundamental da 5ª à 8ª tirou 2,9 nas estaduais e 3,7 nas municipais.

O Pibid atenderá inicialmente alunos de licenciatura em Física, Química, Biologia, Matemática, Letras, Pedagogia e Educação Artística das federais, mas deverá ser ampliado. A portaria será publicada até o fim do mês e o edital de seleção, em seguida. As regras para escolha de projetos incluem inovação e capacidade de superar problemas de aprendizagem dos alunos de uma ou mais escolas. Os bolsistas atuarão em laboratórios ou oficinas extraclasse enquanto cursam a faculdade.
O objetivo é antecipar o vínculo entre os futuros mestres e as salas de aula da rede pública, já que o estágio obrigatório só começa no penúltimo período. Para a secretária de Educação Básica do MEC, Maria do Pilar Lacerda, o programa criará compromisso com o magistério após o fim do curso.

Hoje, professor graduado não é sinônimo de mestre na rede pública. A maioria dos alunos da licenciatura tem planos distantes dessa realidade. Os que querem ensinar, sonham fazê-lo na universidade. “Desmotiva muito, não só o salário, mas a dificuldade de lidar com os alunos. Diminuiu muito a autoridade do professor, principalmente em áreas de risco. Dá insegurança”, admite o estudante do 2º período de Matemática na Uerj Karlos do Amaral, 20 anos.

Ele vê a bolsa como um incentivo. O exemplo do pai, professor de Ciências em Ciep de Magé, orgulha e assusta: “Vejo sua luta: os alunos não querem estudar, tem muito repetente e gente com dificuldades em Português, Matemática. Meu pai tenta orientar em outras áreas também”.

Ao antecipar o contato com a rede pública, o Pibid teria dois possíveis efeitos, acredita a estudante de Geografia da Uerj Rejany Ferreira dos Santos, 28: “Diante de todas as dificuldades, os bolsistas podem se apaixonar ou desistir de vez”.

Evasão ainda na faculdade

Livros e fotocópias caros, passagens diárias e falta de tempo para trabalhar são barreiras que fazem com que as turmas de licenciatura nas universidades se reduzam período a período até a diplomação. É aí que o Pibid deverá fazer diferença.

Estudante de Geografia da Uerj, Rejany Ferreira dos Santos faz o último período do curso, mas só se formará no ano que vem, pois deixou de estudar matérias do início da faculdade, quando trabalhava como secretária numa gráfica para se sustentar.

“A bolsa será importante para manter o aluno na faculdade. Minha turma começou com 45 e agora somos 30”, conta Rejany, que não teve Matemática na 6ª série do Ensino Fundamental por falta de professor e é exceção entre os colegas: deseja ser mestre da rede pública. “A maioria dos meus amigos não quer. Quando se fala em curso da Polícia Federal, o olho de uma colega minha brilha. Há desânimo com relação à docência”, conta.

Postagem: Jacqueline Lima

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